Nem olhares duros
nem palavras severas
Devem afugentar quem ama
As rosas tem espinhos
e no entanto as colhemo-as

Shakespeare
Tudo junto e tudo misturado
As várias emoções que sente
um coração que vive apaixonado

segunda-feira, 8 de março de 2010

Personalidade a frente da sua época / Gika




Gilka Machado
(1893-1980)
Poetisa, sufragista e feminista.

Gilka da Costa de Melo Machado nasceu no Rio de Janeiro, a 12 de março de 1893. Era fi-lha da atriz de teatro Teresa Costa e do poeta Rodolfo Machado. Também seus avós e bisa-vós haviam sido artistas, e sua filha, Eros Vo-lúsia, tornou-se uma bailarina de sucesso. Gil-ka foi pioneira na utilização do erotismo na poesia feminina brasileira.

Seu interesse pela poesia começou na infância, mas sempre precisou conciliar a vida difícil com a atividade literária. Já casada e com filhos, trabalhou como diarista na Estrada de Ferro Central do Brasil, recebendo um ma-gro salário. Estreou nas letras vencendo um concurso literário do jornal A Imprensa, dirigido por José do Patrocínio Filho. Na ocasião, houve manifestação negativa, qualificando seu trabalho como "próprio de uma matrona imoral". Os críticos mais novos, porém, reco-nheceram a importância da sua proposta, que pretendia a libertação dos sentidos e dos instintos.

A obra de Gilka Machado pertence à esco-la poética do Simbolismo, e dela adota as ima-gens mais recorrentes. Contudo, Gilka cami-nhou para a ruptura com seus contemporâneos, não só pela ênfase na temática do erotismo, mas também pela referência a aspectos sociais que oprimem a mulher. Utilizou-se, quase sem-pre, de um conjunto de elementos simbólicos com os quais introduz a sua mensagem: a flor, os gatos, a noite, o vento. Seu objetivo é discu-tir o desejo feminino; executa o seu propósito empregando recursos de linguagem que invo-cam sensações, como no poema Sensual:

"Quando, longe de ti, solitária medito/ neste afeto pagão que envergonhada oculto,/ vem-me às narinas, logo, o perfume esquisito/ que teu corpo desprende e há no teu próprio vulto."

Além de talentosa poetisa, Gilka também era urna mulher do seu tempo, que participou dos movimentos em defesa dos direitos das mulheres. Fez parte do grupo da professora Leolinda Daltro que fundou em dezembro de 1910 o Partido Republicano Feminino, do qual foi segunda-secretária.

Publicou Cristais Partidos (poesia, 1915), Estados de alma (poesia, 1917), Mulher nua (poesia, 1922), A revelação dos perfumes (poesia, 1923), Meu glorioso pecado: amores que mentiram que passaram (poesia, 1928), Sublimação (poesia, 1938), Carne e alma (po-esia, 1938); O meu rosto (antologia e novos poemas, 1947), Velha poesia (antologia come-morativa do cinqüentenário da estréia, 1965), Poesias completas (1978). Recebeu o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, em 1979. Faleceu no Rio de Janeiro, a 17 de dezembro de 1980.

Nenhum comentário:

Postar um comentário